A matéria primordial.
YALDABAOTH
Descoberto em 1945 no Egito, uma série de mil anos de pergaminhos que abalaram as fundações do cristianismo. Batizada com o nome Nag Hammadi — uma das cidades próximas ao sítio arqueológico — a biblioteca foi enterrada em um pote de barro por mais de 1500 anos, sendo protegida por efeitos destrutivos do tempo. Seus compiladores, monges escribas perseguidos como hereges pelo conselho de Nicéia, esconderam sua preciosa fonte de conhecimento, esperando por dias melhores.
Após um longo intervalo, os pergaminhos foram lidos e reinterpretados para o medo da religião no domínio mundial. Este projeto foi inspirado no Codex II, Scroll VI, intitulado “A Criação do Mundo e o Demiurgo de Yaldabaoth”. Parte de um evangelho apócrifo maior, sem se apegar a nenhum sistema específico. Escrito em Alexandria no final do século III D.C, ou no início do século IV, o texto é dotado de um profundo sincretismo helenístico: pensamento judaico, motivos maniqueístas persas, idéias cristãs, conceitos filosóficos e mitológicos greco-romanos, magia egípcia e temas astrológicos.
O Codex trata da origem do Caos, pensamento enquanto sombra ou exterior de algo pré-existente: “O Pleroma”, ou ideal de plenitude e perfeição. Nesse sentido, assume a forma de um relatório detalhado que descreve o surgimento dos andróginos perpétuos que criaram tudo, a queda de Sophia Aeon, a criação do demiurgo Yaldabaoth, a formação das hierarquias celestes do Caos, o oitavo céu, a criação de Adão e Eva. A leitura do pergaminho abre um caminho estranho e complexo de um novo Gênesis, permeado por uma pluralidade de divindades e entidades que lutam pelo controle do Caos ou por sua simples criação espontânea.
Episódio II
– O Mito das Duas Árvores
O primeiro episódio, intitulado “A Queda de Sophia”, inicia-se com uma entidade autogerada, Monade, que forma, em um período indeterminado, um complexo plano geométrico de instâncias de si próprio, o Pleroma — mundo ideal, perfeito e geométrico. A última emanação de Monade, Sophia, é um ente feminino tomado pelo compulsivo desejo de criar e carregada do conhecimento para tal.
Decidida a se tornar a imagem e semelhança do primeiro perpétuo, deixa-se seduzir pelas propostas de Ennoia, o alter ego feminino de Monade (Sizígia), a qual pretende usar Sophia para se separar do mesmo. Sophia cria dessa forma Barbelo, a primeira luz a brilhar no vazio, fazendo surgir, acidentalmente, a sombra. Perdendo o controle sobre a cascata de dualidades e contradições formada pelo contraste entre luz e sombra, Sophia é compelida por Barbelo a entrar no profundo abismo do caos que se abre sobre si, à procura do segredo de Monade.
No fundo do poço, dissolvida por uma tempestade violenta nas águas revoltas da desordem, Sophia grita de ódio contra a traição das instâncias superiores do Pleroma, que a enviaram para a destruição sem propósito. E ao gritar, a tempestade acaba em calmaria
— O Mito das Duas Árvores — O Coração das Trevas — Parte1
No fundo do Abismo, após a tempestade que quase a destruiu, Sophia compreende que o poder criativo de Monade vem da capacidade de exteriorizar a dualidade e formar coisas e sujeitos a partir das contradições resultantes.
Um movimento nas águas do caos abaixo de si revela à Sophia que esta consegue emanar sem sizígia, sem par, condição obrigatória para os Aeons superiores, sugerindo que ela pode superá-los neste novo plano material. O filho nascido do ódio e da vontade de controle de Sophia, Yaldabaoth, emerge quando chamado por ela e mostra toda sua realeza: corpo de serpente, cabeça de leão e o dom da fala e senciência.
— O Mito das Duas Árvores — Gematria I — Parte 2
Sophia enfim compreendeu o segredo de Monade — o infinito era a permuta de finitos signos formando incontáveis conjuntos, por meio dos quais novos mundos poderiam ser formados a partir das águas geladas do caos. Todos seriam manufaturas da linguagem original que ela trouxe do Pleroma em seu próprio modo de pensar e agir. Foi assim que Monade criou o Pleroma e emanou os aeons, dentre os quais Sophia, presenteada com esse dom. Mas de onde teria vindo Monade? Quem inventou a língua sagrada? Sophia não sabia de tudo e sua sede por conhecimento era ilimitada. A única forma de descobrir era continuar desdobrando a criação e observar o movimento em sua absência, ocupando um papel semelhante a Monade. A emanação deveria prosseguir por meio do uso sapiente da palavra de suas criaturas, e das criações de suas criaturas até seu esgotamento, pois o fim revelaria também o princípio.
A linguagem original era formada de categorias morfológicas. Os substantivos fariam os seres, coisas, lugares e fenômenos surgirem do vazio; os adjetivos determinariam suas características; advérbios seu tempo, modo e intensidade; artigos seu gênero; pronomes as referências discursivas; os verbos a realização das ações; os numerais a sua contagem; as interjeições seus sentimentos. Tudo seria formado a partir da somatória ordenada dos sons escritos — as palavras e articulados entre si por conjunções e sintaxe, dando coesão e coerência ao tecido da realidade.
O nome da ciência que faria a realidade surgir da escuridão foi chamada de Gematria por Sophia. Ela havia usado espontaneamente este conhecimento para criar a bela e luminosa Barbelo e a trevosa serpente leonina Yaldabaoth. Agora o objetivo passou a ser sua sistematização para ser ensinado, nem que isso significasse o sacrifício de sua forma feminina.
— O Mito das Duas Árvores — Gematria II — Parte 3
Usando seu corpo, Sophia criou o gabarito da Gematria, a Árvore da vida, o caminho ascendente que levava do fundo do abismo do Caos até os portões do reino luminoso de Barbelo, a antecâmara do Pleroma abstrato e perfeito. Continha dez esferas — três para a cabeça; três para os braços, tronco e seios; três para o ventre e as pernas e uma para sua sombra — cada qual representando uma instância do ser de Sophia, matéria-prima linguística e semântica para a ordenação do Caos. E das veias e artérias de Sophia, as vinte e duas palavras para a formação do vocabulário da criação.
— O Mito das Duas Árvores — Pronoia — Parte 4
Pronoia é o conceito grego dado para definir a oposição de paranóia. Paranóia é a psicose onde o indivíduo acredita que seres reais e imaginários conspiram para seu mal. Pronoia, portanto, é a crença firme no oposto: na conspiração de todas as forças do universo a favor de um sujeito. Esta é a situação de Yaldabaoth. Criado por Sophia como um plano elaborado de Monade para estender os aeons além do pleroma no mundo da matéria, Yaldabaoth tem plenos poderes para organizar o caos e continuar o processo da criação indefinidamente. Mas o idioma sagrado da Gemátria e a simples existência da árvore da vida são fatos desconhecidos para a serpente leonina. Sozinho no escuro, com medo, Yaldabaoth parece estancar e vacilar em tomar alguma atitude. Neste momento olha para dentro de si e encara sua parte desconhecida. Descobre-se hermafrodita. Sua outra metade assume a forma da mulher escarlate, a domadora de bestas, chamada justamente pronoia. Embriagada com a seiva da árvore da vida, conhecedora da linguagem sagrada necessária para a criação dos mundos do caos e seus agentes, Pronoia desposa Yaldabaoth, dando seu cálice para deles o sangue de Sophia sorverem juntos. Yaldabaoth ganha dessa forma a força, a realeza e o conhecimento necessários para cumprir sua missão inata: tornar-se o demiurgo.
— O Mito das Duas Árvores — Goetia I — Parte 5
Yaldabaoth e Pronoia embriagaram-se com a seiva da árvore da vida, o sangue da transmutada Sophia. E durante o coito de ambos, a árvore da vida penetrou fundo no lamacento e gélido solo do caos, até o fundo da entropia, criando raízes. Para cada esfera luminosa (Sephirah) surgiram conchas trevosas (Qliphoth), em uma posição inversa, tornando-se uma espécie de sombra da árvore da vida, perfeitamente complementar — a árvore da morte. Sobre cada Qliphah, num total de dez, nasceram arquidemônios que passaram a ser suas personalizações, seus regentes, governando domínios de iniquidade. Na zona de transição entre raízes e galhos, na intersecção da Sephirath Malkuth e da Qlipha Nahemo — ambas as sínteses da totalidade de suas respectivas árvores — nasceram legiões de demônios, os primeiros habitantes do mundo, dentre os quais estavam os Goetios.
— O Mito das Duas Árvores — Goetia II — Parte 6
Entre uivos e alaridos, risadas e gritos, 72 demônios saíram da intersecção Malkuth-Nahemo e tomaram a frente, sem a autorização de Yaldabaoth para criar o mundo. Eram os goétios, seres anarquistas que repudiavam qualquer realeza. Mesmo surgidos da luxúria de Yaldabaoth com a mulher escarlate, os demônios, em nada, reconheciam Yaldabaoth como merecedor de gratidão ou servidão. Apenas desprezaram com escárnio a serpente leonina quando este despertou de seu sono e exigiu que se submetessem. Profundos conhecedores das artes e das ciências, os poderosos goétios passaram a fabricar o mundo, separando céus e terra. Yaldabaoth não aceitou que a criação prosseguisse sem seu concurso, e desejava a tudo controlar. Para tanto jurou se vingar da desobediência dos goétios, procurando daquele momento em diante uma forma de escravizá-los para fazer o mundo conforme seus desejos.
Notas de Jomarion:
* Conforme revelações de Jan Val Ellam, JAVÉ nunca mostrou sua verdadeira face para Enoch, Noé e nem Moisés. Segundo Enoch e relatos no Apocalipse sua aparencia é monstruosa (uma mistura de animais, uma sopa genetica) porisso se esconde em clarões e lampejos. Javé sobrevive com aparatos e “aparelhos” de prolongamento da vida e atualmente tem cancer terminal, sua mente é confusa (lembremos que na mitologia hindu Brama teve uma “cabeça cortada” para parar de criar quimeras e demonios”. JAVÉ se vale de “fantasias, maquiagens e roupagens” para enganar os humanos por breves momentos. Javé sempre está em um trono (que não é um trono mas uma maquina de manutenção da vida). Quando não se apresenta no trono ele é “carregado” por meia duzia de “anjos clones” seus servos.
/.Matilde Pedroso
Fontes:
http://www.arthemisdeluz.com/…/o-que-e-yaldabaoth-polvo-ene…
https://senhoradesirius.wordpress.com/…/sobre-a-remocao-da…/